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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Fugas loucas

O despertador tocou e fiquei aborrecida por não o ter desactivado na noite anterior. Obviamente não me lembrei de que hoje era apenas 4º e não 6ª feira, mas como dormi a noitinha toda, desliguei-o e virei-me para o outro lado, e só caí na realidade quando levei uma cotovelada na perna: "Não te levantas?"
"Hum? Quê?"
Mudei o dossier com os processos de turma de pasta, tenho andado com a mais pesada, sem necessidade e assim as minhas costas agradecem. Ainda me lembrei de fazer uma limpeza à mala de serviço, só mesmo assim coisa de deitar fora papeis das pastilhas, invólucros dos malditos comprimidos que me deixam sonolenta, listas de compras e outros que tais.
"Já são estas horas?"
Engulo os comprimidos à pressa (nunca mais estou boa, irra! Quando me livrar disto faço uma festa de inauguração!), enfio qualquer coisa a que possa chamar de almoço na pasta, e abro a porta da rua disposta a voar em direcção ao Coreto. Sou travada pelo gato que queria entrar, volto atrás e sirvo-lhe o pequeno-almoço.
Desci a rua de cigarro na mão (estou a diminuir para 10 por dia, salvo raras excepções!) e só me ocorria que tinha algo importante para fazer, mas não me lembrava do quê. Acabei por afastar estes pensamentos, devia ser o mesmo caso do despertador que supostamente não deveria ter cantado hoje.
- "Um café, p'ra espantar o cansaço da festa de ontem?"
Festa? Qual festa?
Ahh, pois é. As festas da cidade... Pelos vistos terminam hoje.
Quero é ver se mato a ressaca, mais nada...
Quando pus o pé no bus, os pensamentos anteriores voltaram a aflorar-me a mente: "Mas o que raio tenho eu para fazer que ainda não me lembrei?"
Já no meu trajecto habitual, quinze minutos mais tarde, vejo ao longe o Coreto de Sarilhos. Fez-se luz: "Hoje saio aqui!"
Hoje entrei às 9 e não às habituais 9:30, por isso me encontrei com a F. perto do Coreto. Tínhamos reunião marcada com o boss.
Recalendarização...
Agregação...
Equipa para o blog....
Equipa para o jornal....
(Eu só via a alteração no meu horário...)
Os estagiários...
- "Mas ó A., então como fica o meu horário afinal?"
- "Isso agora coordenas com a F."
Olhámo-nos e depois de certificar de que me metia na cabeça as datas de início e fim das férias dela, diz-me que "a formação da equipa do blog/jornal pode ficar para as 5ªs à tarde..."
Hum...
Alguns rápidos cálculos de cabeça e jogo de cintura depois:
- "Nada disso! Vou juntar os alunos destas duas turmas incompletas e perfazer apenas uma e a turma de 6ª à tarde passa para as tardes de 2ª. Assim blog/jornal passa a funcionar à 6ª"
- "Pronto... Fica lá com as 5ªs..."
Fiquei 10 minutos à espera da turma que terminei na semana passada (ai não bebes mais, não...), pensando eu que tinham de fazer teste hoje (falando nisso, tenho testes para corrigir :S )Acabámos por ficar por aqui as duas, a desenhar horários semana a semana, não vejo necessidade de alterar nada agora, mesmo porque ela entra de férias daqui por duas semanas...
O meu estagiário tem feito um bom trabalho, é assíduo, executa tudo o que lhe peço com relativa facilidade e quando referi isto ontem, a técnica dele ficou super satisfeita (leia-se: surpreendida) com o empenho dele, que não cabia em si de contente. Hoje de manhã, toda esta surpresa foi substituída por uma maior, desta vez a notícia de que o mesmo estagiário, no outro local de estágio que lhe foi atribuído, passou-se da marmita e ameaçou alguém com uma navalha.
Das duas uma: ou tenho sorte, ou tenho jeito para lidar com ele. Hoje não apareceu... É pena, pois sei qual vai ser a sanção, e vai ser difícil vê-lo partir.
Tento não me envolver emocionalmente com os problemas desta comunidade, mas quanto mais fujo, mais vêm ter comigo. Começam a criar-se laços de confiança, laços esses que não consigo quebrar, mas que também não quero alimentar. Todos os dias me cruzo com um jovem, que sempre me cumprimentou, sabia o meu nome sem me conhecer e hoje veio até aqui, para depositar em mim alguma "responsabilidade". Até há 2 dias atrás vivia na rua, com a companheira e a filha, altura em que a miúda adoeceu e resolver ocupar um apartamento aqui perto. Claro que deu barraca, não é...
Depois de ouvir isto tudo (e mais) e olhar para aquele rosto de 17 anos, de filha bebé nos braços, não teria coragem de lhe negar ajuda para escrever a carta em questão.
Estou aqui desde Abril e ainda não percebi muito bem se sou formadora, psicóloga, assistente social ou outra coisa qualquer ou se sou tudo isso numa só.
Por isso, perdoem os meus disparates. São as minhas fugas, por não querer envolver-me nestes e noutros processos que se cruzam no meu caminho.

4 comentários:

  1. olha que deve ser um desafio e pêras... e todos os dias são diferentes...

    O pior é o resto!

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  2. Sim... Todos os dias são diferentes.
    Nunca sei que papel vou desempenhar quando abro a porta.

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  3. Mas diz lá que não é gratificante?! :)

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