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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Que "maluca" me saíste...

Era Dezembro, já não estávamos sós na casa. Tropa terminada, o R. já de facto "habitava" a casa. Foi tempos depois que também entraram para o plantel o S. e o L. que se instalaram no que supostamente seria a sala.
Casal muito bem disposto mas algo problemático entre eles. Dois meses depois, nova aquisição! A L. juntou-se a nós, e em acordo de cavalheiros, instalou-se no quarto do L. e do S., isto porque entretanto o L. estava bastantes vezes ausente, ora por arrufos de namorados ora por se deslocar a trabalho.
Adorava os chás partilhados na cozinha com o L. enquanto ele fazia questão de me ler o futuro num simples baralho de cartas. Sempre que o fazia, o discurso era diferente o que tornava a hora do chá bastante divertida. O pior mesmo foi quando meteu na cabeça que sabia ler as linhas das mãos...
Ora numa noite fria e sem nuvens, estávamos apenas os três em casa: eu, a L. e o S. sem vontade para ir curtir a noite e os três de candeias às avessas com os respectivos acompanhamentos.
Um bom jantar, alguma bebida e uns fumos ajudaram a determinar o programa da noite.
Entre bafos e mudanças de cd no deck, calhou em conversa a L., sempre interessada nos meus dotes de agulhas, pedir-me conselhos acerca de formas de transformar peças de roupa.
A L., sempre vestida de preto e arrojada, formas generosas e simpatia contagiante. Não eram raras as vezes que me "assaltava" o armário por causa daquela saia preta curtérrima que abria de alto a baixo totalmente com molas, ou qualquer top que eu tivesse, desde que fosse preto, claro.
O S., alto e seco, de barbicha aparada e olhos meigos, meteu-se no meio da conversa e entre panos e trapos perguntou à L. como ela conseguia andar um dia inteiro naqueles saltos.
-"É fácil", respondeu ela. "Queres experimentar calçá-los?"
E ele aceitou o desafio. Calçou as botas de cano alto de tacão enorme e desfilou pelo corredor da casa.
Partimo-nos a rir com o ar desengonçado de quem o faz pela 1ª vez, facto que ele aproveitava para encenar ainda mais.
Quando voltámos ao quarto ele achou por bem completar-se com algo mais.
Alinhámos, nós duas. Começámos à procura de tudo o que servisse num corpo assim alto e esguio, porque claro que as nossas roupas... nós duas baixinhas e de formas femininas, foi difícil acertar em algo que lhe servisse realmente.
Acabámos por equipá-lo da seguinte forma (imaginem-no e não se esqueçam da barbicha aparada):
- Meias pretas de rede larga (da L.);
- Calças pretas de licra, com aberturas em circunferência nas coxas (da L.);
- Camisa branca neo-romântica, com folhos nos punhos e colarinho (minha);
- Top justo preto e prateado (meu);
- As ditas botas de cano alto (da L.);
- Uma écharpe de plumas ou rosa ou roxa, não me recordo bem (da L.);
- Uma boina de veludo preto cravejada de pins (minha);
- Mais fios e colares do que é humanamente possível suportar (das duas!);
- Um brinco enorme, estilo vitoriano, de pedras pretas (meu);
- Pochette preta cheia de lantejoulas (da L.).
Tivémos sincera pena de não termos a máquina em casa naquela noite, porque seria uma foto vencedora de qualquer concurso.
Ele tinha um ar tão cómico e ao mesmo tempo tudo aquilo lhe assentava tão bem, que não resistimos a partilhá-lo com o mundo!
- "S., e agora uma voltinha ao quarteirão?", disse-lhe a L. meio na brincadeira, meio desafiadora.
O S. espreitou pela varanda do quarto e nós acompanhámos.
A rua estava deserta, o restaurante já tinha fechado e não passavam carros nem na nossa rua nem na perpendicular, regra geral mais movimentada.
-"Pode ser..." diz ele deixando-nos num misto de surpresa e excitação pelo momento hilariante que se desenhava à nossa frente.
Combinámos então que as regras seriam: ele não levar chave de casa, nós ouvirmos a porta do prédio a fechar (mesmo por baixo da varanda, seria fácil ouvir), desfilar rua acima, rua abaixo, bamboleando as ancas e agitando a pochette, e finalmente "estacionar" na esquina com a rua mais movimentada, apoiando-se no sinal de trânsito.
Aceitou todas as condições e desceu à rua.
Ficámos as duas na varanda a apreciar o espectáculo e a garantir que todas as regras eram cumpridas. E sim, ele cumpriu-as todas.
Ouvimos o bater da porta do prédio e o S. lá subiu a rua, agitando a pochette que nem louca, não precisou esforçar-se para bambolear as ancas, pois os tacões altos das botas providenciaram que ele cumpriria essa parte do trato.
Deu meia volta nos tacões e desceu a rua, passou por nós acenando com as plumas da écharpe e nós duas desmanchadas de tanto riso.
Parou na esquina, segurou com uma das mãos o poste, e qual pool dancer enferrujada, simulou uma pirueta e pousou os ossos de encontro à parede, joelho flectido e tacão a tentar encostar à parede e sempre agitando a pochette.
Eu e a L. dobrávamos de tanto rir, a barriga doía, as bochechas não voltavam ao lugar e como chorávamos...
Eis quando senão... na outra rua, vindo não sei de onde, passa devagar um carro patrulha. O S. nem deu pela chegada deles. Nós na varanda do segundo andar apreensivas com o desfecho da situação...
Quando o S. dá por eles praticamente parados a seu lado, só vimos a louca da pochette a "murchar" e estacionar numa posição mais calma.
Quando os polícias viram de quem se tratava, e já acostumados a visitar-nos*, seguiram caminho.
Rebentámos os três em riso simultâneo, fizemos sinal para ele voltar. Foi quando reparámos numa cabeça na varanda do 1º andar... A nossa "querida" vizinha assistiu ao filme todo...
* A nossa vizinha do 1º andar, senhora "muito simpática", por algum motivo não ía à bola connosco (nem ao cinema nem ao café...). Nunca entendemos, porque mais ninguém no prédio nos via com maus olhos. Pensavam antes que eramos até bem dispostos e nada desordeiros, em termos de barulho e outras más vizinhanças (bem, talvez o meu face to face com aquela osga enorme tenha quebrado esta do fazer pouco barulho, mas afinal, a donzela estava em perigo, tinha de gritar, certo?). Então a dita senhora por tudo e por nada, chamava a polícia lá a casa. Ora porque entrávamos às3 da manhã, ora porque ouvia o esquentador, ora porque a porta do prédio bateu, ora bolas...
A polícia depois de umas quatro vezes já nos batia à porta apenas porque eram chamados e pronto. Limitavam-se a perguntar se estava tudo bem, por isso a maior parte deles nos conhecia.
(Na foto, eu e o S., curiosamente visto o top que ele usou naquela noite de Dezembro...)

2 comentários:

  1. LOL! Foi muito boa onda, nem todos aceitam! :)

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  2. tadinha da tua vizinhaaaaaaaaaa ..... sê sincera! Nunca lhe pergaste nenhuma? Eu de certeza seria muito boa para ela!
    ...mas vocês são berinhas pobre rapaz .....ihihih ..... adorava ter visto!

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