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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Cigarrinhos para o vício?

Há momentos naquele autocarro, em que me passam as coisas mais inusitadas pela mente. Algumas memórias que me são despertadas por algo que vejo, sinto, ouço ou cheiro.
Neste caso, foi uma troca de frases momentos antes de entrar no bus...
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Janeiro de 1994.
A minha primeira turma pós-estágio.
A primeira sessão de uma nova turma, ainda hoje é para mim como se fosse a primeira sessão da minha vida. O mesmo nervosismo, a mesma inqueitação de quem o vai fazer pela primeira vez.
Entrei na sala de pasta debaixo do braço, tinha a sala cheia de homens feitos, não me recordo quantos ao certo. O facto de ser de espécie diferente, ao contrário do que se possa pensar, deixa-me mais confiante, porque convenhamos... sinto-me em vantagem!
Convém desde já explicar que morava no Montijo há muito pouco tempo, não tendo ainda a noção das zonas, nomes de ruas ou de onde fica o quê, muito menos como lá poderia ir dar.
Depois de os cumprimentar peguei nas fichas de inscrição para verificar se dispunha de todos os elementos e em faltando ía perguntando e completando a informação nas folhas.
Na terceira ficha de inscrição, bati o olho na morada e fitei-os. Tudo expectante à espera que eu desembuchasse qualquer coisa que fosse. Pousei a folha e peguei nas anteriores para ver a morada. Peguei nas seguintes e fiz o mesmo. Todos com a mesma morada...
Por curiosidade espreitei o número de telefone e em alguns era comum.
Olhei de novo para eles e perguntei, com o ar mais inocente que me possam atribuir:
- Isto na Rua tal neste número, é alguma pensão?
Não sei se têm bem a noção do que é ter uma sala estreita e deprovida de móveis que possam abafar sons, com tantos homens a gargalhar ao mesmo tempo...
Até que um deles acabou por dizer, de forma muito graciosa, o seguinte:
- Sim, pode-se dizer que é uma pensão. Mas não somos nós que lá dormimos...
É verdade.... A minha primeiríssima turma era de polícias!
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- "Cigarrinhos para o vício?", pergunta ele, que me encontra todas as manhãs naquele local, enquanto vou saíndo da tabacaria de maço na mão.
- "Tem de ser...", respondi ao acender um cigarro. "Até amanhã!"
Ainda me apanhou mais adiante, estava eu ainda a fumar e de phones enfiados nas orelhas e provavelmente a marcar o ritmo com o pé ou a abanar o pandeiro (que vergonha!), e diz-me:
- "Envelheces e não se nota nada. Continuas na mesma. Consigo ver-te sentada nas bancadas do liceu, de cigarro na mão e a ouvir música de forma egoísta."
- "Acho bem que isso seja um elogio, não me apetece agredir um homem fardado..."
(Risos)
Quem diria que neste fim de mundo ía reencontrar um colega de liceu, fardado...

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