Atravessou a correr os portões cobertos de ferrugem.
Seguiu pelo caminho que dava acesso à casa, completamente engolido pelas ervas altas, que deixavam adivinhar a ausência de passagens recentes. Apenas as secas ervas altas, a dançar ao vento.
Correu até casa, levantando as longas saias para auxiliar o passo. Em vão bateu na porta de pequenos vidros quadrados.
Ouviu som vindo de cima. Recuou dois passos, ergueu o olhar pelas paredes cobertas de hera, em perfeito desalinho selvagem, até à janela que se abria.
Um vulto.
Apenas um vulto lhe fez sinal, conduzindo-a na direcção das traseiras da casa.
Atravessando mais ervas altas, que denunciavam um longo abandono, parou junto ao lago.
Na margem, perto de si, um pequeno pontão. Madeira e corda em tosca composição.
Virou a palma direita para baixo levando-a à testa, protegendo o olhar do sol.
Viu-os. As duas crianças vestidas com os seus bibes de marinheiro, como bonecos de porcelana de outro século qualquer, no pequeno barco de madeira, no meio do lago.
Tentou dizer algo.
As crianças olharam-na e em euforia estranha, ergueram-se. Não teriam tido noção do desequilíbrio que provocavam no pequeno barco e quando ela lhes gritou algo, como para os sossegar, o barco virou.
O seu corpo gelou, paralisou. A vontade de ir ao seu encontro debatia-se com o medo de avançar. Apenas conseguia assistir e processar a informação. Sem qualquer controlo sobre o seu corpo.
Quando viu as mãos desaparecerem através da água ligeiramente revolta, sentiu todo o peso do corpo ceder, não deixando nunca de focar aquele ponto na água, onde tudo desaparecera.
Este estado apenas foi interrompido pela suave voz de uma menina a seu lado, que lhe repetia calmamente:
"Culpa tua... Foi tudo culpa tua..."
Ei... que estado é este? até me conseguiu pôr melancólica...
ResponderEliminarépá tu nao me digas q te peguei a telha ? é q nao era essa mesmo a intenção ........
ResponderEliminarBONITO post (animado/ANINHADO na sua melancolia e "tragédia". Tens o dom da escrita Smootha!
ResponderEliminarPS: UM EXCELENTE 2009 PARA TI, TÁ!
Um post expiatório...
ResponderEliminarHá sempre culpas que tentamos exorcizar.
sem reagir paramos no tempo e ficamos simplesmente a ver as coisas a acontecer
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