Pérola

PitaPata - Personal picturePitaPata Cat tickers

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

E um suspiro ecoou pela sala

Nos últimos dias tenho dado por mim a recuperar memórias há muito apagadas.
Têm surgido no meio de conversas, umas virtuais, outras físicas.
Como já várias vezes tenho dito, um esgotamento e alguns revezes da vida eliminaram-me memórias, que talvez por não lhes ter acesso as considero de valor incalculável (que na realidade o têm!).
Ontem, a propósito de uma conversa acerca do "em qualquer lado, em qualquer altura", o meu interlocutor não imaginava sequer o que saiu de uma das minhas minúsculas gavetinhas cerebrais, há muito lá perdida.
Dezembro de 1993.
Anfiteatro do ESHTE.
Algures durante a tarde, depois de um almoço regadíssimo e de mais uma noite sem dormir.
Não me recordo porquê (mesmo!), mas tínhamos de ir assistir a uma palestra qualquer sobre qualquer coisa relacionada com o Gates ou algo do género.
Eu, a Zé (minha inseparável companheira de quarto) e um colega de quem recordo apenas uns brilhantes olhos azuis, mas sei que era de Braga.
Quando entrámos, adivinhámos tarde de seca, calculámos que o mais certo era adormecermos e ficámos sentados o mais afastados possível do aglomerado das primeiras filas.
A sala escureceu. Os projectores ligaram-se. Oradores de pé. Os três estarolas a 10 filas de distância, com o giraço de olhos azuis no meio.
As cabeças já tombavam, "dá-me o teu ombro"e mais qualquer coisa desse género.
A certa altura, entre a minha cabeça no ombro dele (Nuno, acho eu...) e os olhos a ceder ao peso de noites sem dormir, ouvi a voz da Zé, queixando-se dos incómodos assentos e de como lhe faziam doer as costas.
Prontamente o "Nuno" lhe disse que tinha algum talento com as massagens e tal. Depois de ela se certificar de que realmente ele entendia do assunto, ela deu-lhe as costas e eu devolvi-lhe o ombro.
Por acaso, mas só por acaso, descalcei-me, levantei as pernas e pousei-as nas costas da cadeira da frente.
Deixei as pálpebras cairem de novo, ele lá lhe aplicou a massagem nos lombinhos e realmente devia estar a resultar.
Ele ía perguntando como estava, ela ía respondendo, mas dava para notar na voz dela que estava cada vez mais relaxada...
Tão relaxada, que soltou um suspiro que lhe veio mesmo do fundo do ser...
E que fez toda aquela gente lá mais abaixo, 10 filas à nossa frente, oradores incluídos, olhar para trás...
E apenas devem ter visto 3 cabeças desaparecerem no escuro da sala, lentamente escorregando em direcção aos assentos, apenas com os meus pés nus hasteados em direcção ao tecto.
Rimos que nem doidos e resolvemos logo ali alimentar a história.
Não saímos da sala à socapa.
Em vez disso, gramámos a palestra toda, fizemos questão de não nos levantarmos enquanto alguns colegas não se dirigissem à saída, aproximando-se o suficiente para nos identificarem.
Só então saímos...
A Zé com a roupa em desalinho, fralda da camisa por fora das calças, eu a equilibrar-me enquanto enfiava as botas nos pés, o "Nuno" com os nossos casacos, a segurar-me por um braço e um sorriso de orelha a orelha.
Acabámos de aprumar as roupas mesmo ali na entrada e saímos do edifício principal, os 3 num abraço apertadinho, sempre com ele ao meio.
As aulas no dia seguinte foram animadas, tanto na nossa turma, como na dele.
Durante muitos anos nos perguntaram o que se passou de facto naquela tarde. Nunca nenhum dos 3 o disse a quem perguntava.
Anos mais tarde calhou falarmos os 3 acerca disso. Dos rios de conjecturas que foram feitas acerca do caso e de como foi engraçado ver por onde voava a imaginação de toda aquela gente, de hormonas saltitantes e impacientes.
Talvez eu tenha sido a primeira dos 3 a contar a terceiros o que se passou naquela tarde, talvez a ninguém que me leia isso faça alguma diferença.
Mas para que nenhum companheiro me chame delatora: dessa noite nunca ninguém falou...
Desfaço um nó... ato-o em outra ponta... ;)

4 comentários:

  1. LOL

    Já me ri a sério. Ainda bem que se abriu ese recanto da tua memória... porque adorei ler.

    Beijinho e bom ano
    Jorge

    ResponderEliminar
  2. Rezo para que te vás lembrando de mais destas..LOL!

    ResponderEliminar
  3. Bacâno... O Nuno então gozou da fama e sabe-se lá se do proveito.
    Isso com uns banhos de mel não te faria avivar outras memórias? Sabes que na dúvida, porque os neurónios têm prazo, escreve!
    Bjs
    F

    ResponderEliminar
  4. Banhos de mel....
    Assim não me sai da cabeça a foto que puseste por lá... Aiii
    Altamente sugestiva! :D

    ResponderEliminar

Related Posts with Thumbnails