Há uma carta por escrever...

Ultimamente, parece que todo o meu passado se anda a atravessar no meu caminho...
São como peças de um puzzle, vão aparecendo, umas atrás das outras, e vão-se unindo. E isso tem feito com que me recorde de coisas, pessoas, sítios e histórias sem fim.
Afinal vivi. Parece uma vida tão distante, mas estas pequenas peças, mostram-me que tudo foi verdade.
Desta vez tropecei num anel.
A prata estava tão escura que não o reconheci. Nada que um bocadinho de pasta de dentes não resolvesse. E foi aí que o brilho da prata me fez recordar...
O dia em que uma amizade foi selada. Uma grande amizade que o tempo deixou apagar.
Não sei como, não sei porquê.
Não foi a distância porque era sempre uma paródia escrever e receber aquelas enormes cartas que escreviamos uma à outra. Se calhar foi pelo preço dos selos... eheh
Tinhamos uma amizade tão forte, tão à prova de tudo e no entanto, quando casaste, tudo se modificou. Será que ele teve medo? Bolas.. Se tivesse de ter acontecido alguma coisa entre nós, tinha acontecido muito antes de ele aparecer, não?
Quantas vezes partilhámos a cama, o duche, tudo?
E aqueles horários escolares fictícios, hein?
Eramos capazes de sair da cama 2 horas antes das nossas reais aulas! A Caly e a Sandra também eram fixes, mas não embarcavam nas nossas loucuras.
Pois é, este anel fez-me pensar, Cris. Porque nos afastámos, miúda?
Pensavamos da mesma forma, agiamos do mesmo modo.
Andei a remexer nos meus álbuns de fotos. Tenho poucas fotos tuas. Lembro-me assim de repente, de uma tirada num jardim qualquer em Santarém. "Stôr! Onde é o quartel?"
Ainda te estou a ouvir perguntares isto e do olhar de reprovação da Sandra.
Pois é... o quartel estava mesmo atrás de ti, amiga!
Foi nesse dia que conhecemos o Eddie Murphy! Belos tempos...
Onde foi que nos separámos? Bolas, tenho mesmo saudades de não ter de pensar no amanhã. De apenas viver o hoje, sem me ralar com mais nada.
Temos tanto para pôr em dia...
Esta carta tenho mesmo de te escrever.